Serial Killers: Organizados e Desorganizados

Uma das formas mais fáceis de se classificar serial killers seria pela diferenciação entre organizados e desorganizados. Alguns consideram esta classificação como a "base" do profiling desenvolvido pelo famoso FBI. A diferenciação mais simples para classificar um serial killer seria entre ato e processo.

Assassinato com Foco no Ato

O foco no ato do assassinato descreve a psicologia de um assassino que tem como objetivo a morte, por mais óbvio que este conceito seja. Não existiria, neste caso, uma grande importância no método da morte, ou um grande interesse no processo do assassinato em si. O resultado seria apenas o que é importante para este tipo de assassino. O foco psicológico seria a concretização do ato, e até mesmo quaisquer eventos que viriam a seguir.

Assassinato com Foco no Processo

Do outro lado, temos um assassinato com foco no processo. Este tipo de assassino se preocupa com o processo do assassinato, ou seja, os detalhes que ocorrerão entre o início da violência contra sua vítima e sua morte. A preocupação, neste caso, seria com o que aconteceria no processo do assassinato, e isso pode envolver diversas vertentes de supostas "necessidades", ou rituais, que o assassino acredita ter que performar para que ele não tenha seu crime descoberto e/ou sua identidade revelada. Faz-se referência aqui sobre supostos rituais pois não seriam comprovadamente eficazes nas suas propostas.


Assassino Organizado vs. Desorganizado

É esta disposição descritiva de personalidade que compõem o conceito de assassino organizado versus desorganizado.

1. Assassino Desorganizado

Os assassinos desorganizados seriam aqueles que justamente não têm um planejamento necessariamente estratégico do assassinato. Muitas vezes, principalmente em um contexto de América Latina, é muito utilizado o termo morte passional para descrever este evento. Por justamente ser movido basicamente pelos sentimentos do criminoso, e além disso não ter necessariamente um planejamento prévio, é suposto que estas cenas do crime seriam desorganizadas.
A desorganização no contexto de assassinato é subjetiva, mudando muito internacionalmente dependendo de fatores socioculturais, étnicos, econômicos e religiosos. O que é descrito como uma cena do crime desorganizada para as Filipinas, não necessariamente, é a mesma coisa para o Brasil. Essas diferenças criam certas tenções internacionais devido a diferença de valores que envolvem moral e ética, que não vão ser abordados neste artigo.
A ideia geral que se tem do profile de um assassino desorganizado envolve o estereótipo hollywoodiano de homem nerd e esquisito. Geralmente este perfil envolve também uma enorme inaptidão social, tornando o convívio (mesmo com pessoas da mesma idade e sem autoridade envolvida) muito dificultado. Essa inaptidão muitas vezes também pode acabar sendo descrita como timidez, vergonha ou apenas boa educação.

1.1 Considerações de Convívio Social
Estes mesmos indivíduos também tendem a ter dificuldades em seus ambientes de trabalho. Quando apresentam alguma estabilidade de trabalho, a posição não requer muito estudo ou especialização. O trabalho em si é um grande foco no estudo deste tipo de assassino, já que ele envolve o desenvolvimento de um fator interpessoal para que um objetivo em comum seja atingido. Neste caso, o indivíduo tende a se comportar de maneira esquiva e pode não cumprir com acordos ou lealdades caso estas não o favoreçam mais.

1.2 Considerações Físicas e Mentais Enquanto estabelecer profiling contando com a aparência das pessoas, quando esta análise vai além da distinção de grupos sociais pré-estabelecidos pode parecer duvidosa. Mas as estatísticas sugerem que assassinos desorganizados tendem a ter preocupações menores com a própria higiene ou de seu ambiente. Se por um lado levar em conta questões de higiene pode ser debatido como boa análise psicológica neste caso, por outro lado, temos o perfil psicológico do assassino, que é ponto de concordância quase que absoluta de quem estuda o caso. Se assassinos desorganizados realmente tem essa desorganização passada para a cena do crime, isso envolve também pouco planejamento quanto ao local do crime (que nestes casos é mais perto da casa do próprio assassino do que nos casos de assassinos organizados). Este comportamento, em uma análise mais pessoal, geralmente envolve questões mentais importantes de se destacar: baixa autoestima, falta de confiança em si mesmo, baixo QI quando comparados com a média mundial e tendência a ser acometido de doenças que envolvem algum nível de psicose ou alucinação: esquizofrenia, psicose, paranoia e bipolaridade, por exemplo.

1.3 Métodos
Os assassinatos desorganizados geralmente seguem o padrão de não terem um reconhecido M.O. (modus operandi) atrelado à eles. Geralmente os assassinos desorganizados vão coletivamente dividir algumas características em comum:
  • Ataque Relâmpago (Blitz Attack): este tipo de assassinato segue um método de ataque surpresa, de forma que a vítima tenha menos chances de se defender. É importante lembrar que, por serem desajustados socialmente, estes assassinos não apresentam capacidade de seduzir ou "enrolar" a vítima.
  • Vítimas Aleatórias: este tipo de assassino não tem coragem de arriscar vitimizar algum conhecido pessoal. Suas vítimas são, em sua maioria, de oportunidade.
  • Violência Excessiva (Overkill): pode haver algum tipo de objetificação psíquica da vítima, já que na maioria deste tipo de assassinato, há o uso de uma violência além da necessária para a morte da vítima. Pode haver algum tipo de manipulação do assassino em relação ao corpo da vítima, como mutilação, seja o comportamento movido para ocultar o crime ou apenas para satisfazer algum nível de curiosidade.
  • Baixo Planejamento: este assassino, como já relatado anteriormente, tem baixa necessidade de algum tipo de planejamento, já que o objetivo da morte em si é a parte mais importante. Esta característica acaba por gerar, quase que por consequência, a falta de ocultação proposital de provas. Pouca Preocupação com Ocultação de Provas: não há uma preocupação com o destino do cadáver ou da arma do crime: geralmente estes são abandonados no mesmo local do crime, sem nenhum tipo de transporte de evidências propositalmente, a não ser por meio de troféus.
  • Baixo Interesse na Mídia: este tipo de assassino também não tende a acompanhar o caso na mídia, em uma tentativa de controlar os acontecimentos.

    1.4 Conclusões
    É importante notar que, apesar da multitude de evidências que este tipo de assassino deixa para trás nas cenas do crime, isso não quer dizer necessariamente que este são crimes de fácil resolução. Devemos lembrar que mesmo em países considerados desenvolvidos, as análises laboratoriais investigativas não recebem investimento o suficiente para lidar com a demanda pública. Evidências acabam não sendo analisadas por anos, são até mesmo perdidas ou colocadas no arquivo errado. Estes casos não necessariamente envolvem algum tipo de conspiração para ocultação e posterior arquivamento do caso. É apenas importante levar em conta o fato de que apenas as provas físicas de um crime muitas vezes não podem ser utilizadas de imediato na investigação, o que gera inclusive a própria impunidade do crime em si.

    2. Assassino Organizado

    Os que apresentam uma personalidade mais organizada seriam os que justamente focam no processo do assassinato em si. Estes assassinos tem maior chance de terem planejado seus crimes e/ou terem fantasiado com o método e ritual a ser performado. Neste caso, há uma grande chance de existir alguma tentativa de encobrir vestígios importantes para a polícia. Os casos mais comuns envolvem:
  • Uso de luvas para evitar deixar digitais (o que, por si só, tem uma grande discussão por trás, que nem mesmo os mais inteligentes da criminalista não ousam se pronunciar sobre);
  • Esquartejamento da vítima, para que o despejo desta evidência a torne difícil de ser encontrada em sua totalidade;
  • Uso de ácido para liquefazer os vestígios do cadáver da vítima e tornar seu manejo mais fácil para o posterior despejo;
  • Amputação pós-mortem de partes do corpo que podem fazer reconhecer a vítima, como: dedos da mão e do pé, partes da pele que tenham tatuagens e até mesmo a cabeça da vítima. Estes vestígios também são usados muitas vezes de troféu pelo criminoso, mas essa análise é bem mais profunda.
  • Entre outros.

    1.1 Considerações de Convívio Social
    Os assassinos organizados tendem a ter uma personalidade extremamente agradável, muitas vezes confundindo suas vítimas, que não conseguem entender como alguém "bom" poderia causar à ela algum "mal". Além de serem agradáveis, também são, em sua maioria, charmosos e bonitos. Estes indivíduos conseguem manter relacionamentos de longo prazo, conseguem desenvolver uma vida social ativa e, muitas vezes, são enxergadas como cidadãos modelo.

    1.2 Considerações Físicas e Mentais
    Não se engane, esta personalidade de assassino em série é ciente das diferenças entre certo e errado, moral e imoral, são e insano. As decisões são deliberadas, mesmo quando o indivíduo teve acesso à informação, instrução, ou indicação contrária ao que adota. Como, em sua maioria, assassinos em série também se enquadram no diagnóstico de psicopatas, são pessoas que tendem a não sentir remorso ou empatia. Por causa disso, aprendem rapidamente na infância a interpretar um papel socialmente aceito.

    1.3 Métodos
    Assassinos em série organizados são pessoas com personalidade metódica, o que se exprime em uma consideração longa de quaisquer crimes que vão a ser cometidos. São pessoas que geralmente chamam a atenção da vítima por meio de contato direto, normalmente utilizando de algum tipo de autoridade social (policial, por exemplo). O local da abdução, quase sempre, é diferente de onde ocorreu o primeiro encontro, de maneira que este primeiro trajeto é feito pela vítima de maneira consensual.
    Este tipo de assassino também se categoriza como o tipo que desenvolve os "murder kit" ou "rape kit". É importante considerar que, historicamente, os rape kits se referiam a exames pélvicos que eram realizados em vítimas de estupro. Porém, recentemente, também vêm sendo utilizados para descrever kits de ferramentas necessárias para cometer um estupro e sair ileso. O conceito de murder kit foi recentemente trazido à tona devido ao caso de Israel Keys, que espalhou murder kits pelos Estados Unidos anos antes de cometer os crimes. Geralmente os assassinos organizados vão coletivamente dividir algumas características em comum:
  • Múltiplas cenas do crime: normalmente este tipo de assassino tem três cenas do crime envolvidas: onde a vítima encontrou o assassino; onde a vítima foi assassinada; onde a vítima foi enterrada.
  • Muita Preocupação com a Ocultação de Provas: assassinos organizados são informados em relação aos métodos de analise criminal da polícia, de forma que podem se utilizar de métodos para dificultar as investigações, como: limpar a cena do crime; limpar a arma do crime; se livrar da arma do crime em outro lugar que não seja o lugar do assassinato.
  • Alto interesse na mídia: assassinos organizados estão sempre acompanhando seus crimes na mídia, de forma a acompanhar o quanto exatamente é sabido pelo público quanto ao crime.
  • Personalização da vítima: enquanto assassinos desorganizados geralmente objetificam suas vítimas, de forma a conseguir cometer a violência de forma mais agressiva; assassinos organizados fazem o movimento contrário, personalizando suas vítimas. Para eles, o prazer vem da realização de que eles têm o controle total sobre a vida de outra pessoa, o componente humano é justamente a característica que torna o ato do assassinato interessante.
  • Narcisismo e Egocentrismo: em sua maioria, assassinos organizados são narcisistas e egocêntricos, acreditando que eles são melhores que os outros, e por isso, merecem algum tipo de retribuição.

    1.4 Conclusões
    Diferentemente dos assassinos desorganizados, assassinos organizados aprendem com os seus próprios erros. Conseguem analisar o crime que cometeram de maneira racional, e entender quais atitudes possivelmente podem prejudicar seu anonimato. Não são assassinos que mantém um M.O. puramente por ego: se necessário, podem se adaptar para outros métodos de assassinato, se necessário, para se manterem cometendo crimes.
    Isso torna assassinos organizados extremamente perigosos, e talvez se observarmos a longo prazo, mais perigosos que assassinos desorganizados. Por terem a capacidade de aprenderem com seus erros e analisarem as situações de maneira racional, este tipo de assassino pode se manter longe das investigações da polícia e continuar sua série de assassinatos por muito tempo



    Assassinos em série são complexos. Porque, no final do dia, também são humanos como o resto da população neurotípica. E essa complexidade só pode ser analisada e compreendida por outro ser humano, o que torna toda a investigação extremamente difícil. Algumas cenas do crime, inclusive, podem apresentar características organizadas e desorganizadas ao mesmo tempo; quase como quaisquer conceito didático, nada em uma cena do crime é preto no branco.
    Independente do preceito no qual são colocados, assassinos em geral que tendem a apresentar algum grau de psicopatia são extremamente perigosos para o convívio social. A manipulação e o sadismo são como segunda natureza para estas pessoas; a falta de empatia torna impossível o convívio social sem que o psicopata esteja, de alguma forma, sentindo que está saindo na frente dos outros. Se ele entender que está na média, ou mesmo atrás da maioria, tende a ter um impulso violento.


    Referências Bibliográficas

  • DOUBLE YOU MEDIA. The differences between Organized and Disorganized serial killers. This Interests Me: 4 ago. 2020. Disponível em: https://thisinterestsme.com/organized-disorganized-killers/. Acesso em: 17 ago. 2024.
  • SCOTT, B. Organized Versus Disorganized Serial Predators. Psychology Today: 17 jun. 2018. Disponível em: https://www.psychologytoday.com/us/blog/wicked-deeds/201806/organized-versus-disorganized-serial-predators. Acesso em: 17 ago. 2024.